Esquecer Godot

Bem-vindo aqui! Este blog é meu. Quero-o. Para que as palavras não se esqueçam de mim. Para que o meu ser jamais se dilate, como que envergonhado. Se não esquecermos Godot, ele esquece-se de nós. Se me esquecer de mim, tudo me olvidará. Sê bem-vindo a mim.

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Location: Lisboa, Lisboa, Portugal

Sunday, September 25, 2005

Um excerto de "O choro de Carolina"

Carolina parou a leitura nesse preciso momento. Não quis mais. Não conseguia mais fixar a sua atenção para além do que se tinha passado, nem nessa estória com a qual se identificava. Saiu de casa. O lago reluzia a voz da lua. Voz fleumática. Voz estática. As ondulações eram tremores de sofrimento. O lago procurava uma alma gémea. O lago era o seu sofrimento. O lago era ela, para sempre.
Como um sonâmbulo, andou lentamente, envolvida no seu olhar distante e vazio. Parou numa lápide na qual estava inscrito um poema sem autor identificado:

De um Lago
estabelecido em Ódio
surge a harmonia
silvestre
chega o Hino ao Silêncio
mudo
campestre
e o canto celestial
da menina afogada



Lucas Madrugada

Friday, September 23, 2005

"O que o mar tem de mim"

Às vezes solto-me
e deixo o sol acariciar-me a cara
anseio estar assim,
virgem de calor,
dentro de ti
na minha dor

Hoje hei-de entrar em ti
e ser eu o sol
que perecerá
Entrelacemos os olhares
que o tempo anseia por mim
fitemo-nos, contemplemo-nos
abracemo-nos
que o tempo tem pressa
e força e jeito e tudo mais!

Germinemo-nos
saltemos de olhos fechados
subjuguemo-nos
eu a ti tu a mim nós a nós
de olhos bem fechados

Sorriremos
na queda tépida para amor puro
pelas escadas da agonia
da incerteza, da beleza!
Domemo-nos
Domemos a tristeza!
o vazio escuro
a harmonia
Prometo-te juro-te!
que de hábitos só o acaso
serei surpresa, digna verdade
um olhar de vaidade
comicidade
meu corpo minha dor
minha coragem meu fulgor

Guardarei, aliado ao tempo
tua tristeza
e o teu amor
Lucas Madrugada

Wednesday, September 21, 2005

"Uma consideração estética"

Isto não é um poema
mas está escrito em verso
Porém se não é um poema
será o inverso?

Lucas Madrugada

Tuesday, September 20, 2005

Existencialismos

Nada prova que o tempo não existe; aliás, que existe não existindo. Vejamos, penso no futuro e esqueço o passado, mas se vivo no presente não tenciono pensar nele, e se não penso nele a vida é-lhe sugada. Se cogito com uma personificação qualquer do tempo serei julgado demente, e sendo assim, nada que direi será alvo da Razão, estúpida aliada do Tempo, mestre dos vómitos divinos, do sangue virtual que nos enoja.
As respostas são cegas mas não são surdas nem mudas, apenas tímidas, excessivamente acanhadas. De tudo duvidam pois a razão as trai constante e eficazmente, ignorando a vontade própria de qualquer homem, de qualquer mulher, de qualquer momento.
O tempo entristece, não amedronta. O tempo a haver apenas prova que o que há nunca houve e jamais haverá. Tudo se identificará e associará a um tempo inexistente e ignóbil, absorvendo os nossos pensamentos, fazendo-nos perder tempo. Se o tempo não existe, não existimos, logo a nulidade é que é presente. Somos a memória de um tempo a haver, nada mais.


Dinis Pires

Friday, September 16, 2005

"Ah, o silêncio"

Ah, o silêncio
disse com desdém
Recorda-me a violência
de alguém

Escrevo sobre silêncio
para não o falar
pois qual silêncio seria
sem silêncio no ar?

Ah, o silêncio
disse saudoso
É a minha obsessão
mas quem deseja tanto silêncio
não viverá em vão?

Lucas Madrugada

“Água mole em pedra furada”

Foste água mole em pedra furada
E eu homem com coita

Vibrações.
Batem intemeratas
Consequência de frutos podres

Corações.
Coerções que vibram
Incumbência de vidas

Lamentos.
Frutos de corações
Arrancados pela raiz

À pressa caímos
Calmo te espero


Lucas Madrugada

Thursday, September 15, 2005

"Gigante libelinha"

Há uma viagem grátis logo ali depois da ponte
com caminhos para tudo e
para todos
São desejos secretos de quem nos espera
Cartas abertas de murmúrios
tímidos

Uma vontade de querer
e não querer isso.
Sem querer,
ser submisso
e arrastado pelo ser

Porque sigo eu este caminho
se havia tantos mais?
estavam turvos
os sinais
sem vida
a minha vista
a bicicleta
sem pedais

O sinal dizia poucos quilómetros e
sem pedais
cansado com sede
e muito mais
avistei o vulto de uma fonte
gigante libelinha
no horizonte

Estou com frio. Estou frio.
As costas dum glaciar sem barriga
são atiradas ao deserto
sem grito de misericórdia


Lucas Madrugada

"Eu e Eu em conversa"

Não vou mais adiar a infância
e é nesta instância
de devassidão
virado para dentro
que te olvido
e devolvo a mão
que me ofereceste
na confusão
de quando nasceste
de quando morreste
e olhaste
bem dentro de mim
e avistaste
um abismo
com fim.

Lucas Madrugada

" ( ) "

Somos um mar que é uma maré que

~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

nos une

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O mar é uma maré
que nos une
que nos é
que nos pune

Lucas Madrugada

Wednesday, September 14, 2005

Bem-vindo aqui!

Este blog é meu. Quero-o. Para que as palavras não se esqueçam de mim. Para que o meu ser jamais se dilate, como que envergonhado. Se não esquecermos Godot, ele esquece-se de nós. Se me esquecer de mim, tudo me olvidará.
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