Esquecer Godot

Bem-vindo aqui! Este blog é meu. Quero-o. Para que as palavras não se esqueçam de mim. Para que o meu ser jamais se dilate, como que envergonhado. Se não esquecermos Godot, ele esquece-se de nós. Se me esquecer de mim, tudo me olvidará. Sê bem-vindo a mim.

Name:
Location: Lisboa, Lisboa, Portugal

Monday, January 30, 2006

"Contemplação"

Como uma Catedral, tu
Pões-me numa fotografia,
boquiaberto, vivendo
o síndroma de Stendhal
enquanto te roubo, e devolvo
à imaginação

Em ornamentos de vidro,
_ Sou o artista que os faz_
sinto-me empobrecido
porque isso te satisfaz.

O teu beijo fala Francês
comido e estrangeirado.
A tua pele respira
a contemplação do teu cheiro

Lucas Madrugada

Sunday, January 29, 2006

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Poema de Manuel Bandeira,
poeta brasileiro

Monday, January 16, 2006

"I"

Querendo, coço a tua morte anunciada
nesta colecção pouca de coisas minhas.
Talvez Rimbaud apelasse
à vitória
do egoísmo vencido ou
ao despertar duma paixão
por formas de vocalidade que
cantam em fotografia
o grito desta nova alma.

Sem querer, faço um baloiço do meu corpo e
empurro-me.

Lucas Madrugada

Monday, January 09, 2006

"A abundância dos sentidos"


A abundância dos sentidos
confiante
agarra pelas
entranhas
do vazio.

Lucas Madrugada

Saturday, January 07, 2006

"Corpo só corpo"

"Que força é essa amigo,
Que te põe de bem com outros
e de mal contigo?"
escreveu outro, não eu

É este ranger de punhos
esta força solitária
este sentir nos olhos
o corpo a levitar

Enxergar bem perto
a raiva dos sonhos
intimidarem-se para dentro
como se tudo se dipersasse para sempre...
e o corpo fosse só corpo.

Essa força minha não é
nem dos que me acompanham
esses, por vezes arrumo
em estantes da minha alma

Lucas Madrugada

Friday, January 06, 2006

"A mulher é homem"

A mulher é homem
como o homem era
Assim se expande o centro duma colher

A mulher é cómica
como o homem foi
Assim se abre uma ferida que dói

A mulher é mordaz
como o homem é
Assim se unem três dedos do pé

A mulher é malévola
como não era
e assim se raspa a colher
numa ferida no pé

Lucas Madrugada

Wednesday, January 04, 2006

"Cantiga popular"

Vida prática vida dura
tanto bate tanto fura

Oh deus da preguiça
solta-me enfim
da areia movediça
que fizeste para mim

Vida prática vida dura
tanto bate tanto fura

Oh deusa da diligência
pede o divórcio
assim a minha consciência
chacina o teu ócio

Lucas Madrugada