Esquecer Godot

Bem-vindo aqui! Este blog é meu. Quero-o. Para que as palavras não se esqueçam de mim. Para que o meu ser jamais se dilate, como que envergonhado. Se não esquecermos Godot, ele esquece-se de nós. Se me esquecer de mim, tudo me olvidará. Sê bem-vindo a mim.

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Location: Lisboa, Lisboa, Portugal

Thursday, April 20, 2006

"Título"

Poucos falam
da beleza da planta
carnívora
e eu
não vou ser um deles.

Lucas Madrugada

Tuesday, April 04, 2006

"Portugal"

Há anos que espero que chova
para que à tona da água
enxergue vida.
Neste deserto,
faz tempo que a chuva não cai,
que me livre desta espera.

Há dias que olho a Esfinge
embalsamada em calcário.
Não é daquelas que se tinge
num solário.

Sou as ruínas duma Caravela
que à tona da água
serão vida.
(Nenúfar morto)
Acende-se uma vela
pela mágoa
da vida.

Há tempos que me prometem chuva
e dizem para não sair do lugar.
Cansado, longe da perseverança,
respondem-me que dá azar.
No porão encontro a lembrança
deste lugar.

Uma gota. Será de suor?
Neste calor, até o céu se cansa.
Ouve-se um murmúrio
onde não há.

Eu queria ser a Esfinge
ou então lamber-lhe um pé
Sou daqueles que finge
ser quem é.

À volta da Caravela,
Eu-em-ruínas
a maltrato com leituras
de sinas.
A velha cigana diz-nos
que choverá
se copularmos com a Esfinge.

Porém ninguém me remenda
e todos os dias olho
para os buracos na alma.
E quando um dia chover que hei-de fazer,
se Eu-em-ruínas já não sei nadar?
Os buracos verterão água
que se liberta para outros lugares.

Lucas Madrugada