Nada prova que o tempo não existe; aliás, que existe não existindo. Vejamos, penso no futuro e esqueço o passado, mas se vivo no presente não tenciono pensar nele, e se não penso nele a vida é-lhe sugada. Se cogito com uma personificação qualquer do tempo serei julgado demente, e sendo assim, nada que direi será alvo da Razão, estúpida aliada do Tempo, mestre dos vómitos divinos, do sangue virtual que nos enoja.
As respostas são cegas mas não são surdas nem mudas, apenas tímidas, excessivamente acanhadas. De tudo duvidam pois a razão as trai constante e eficazmente, ignorando a vontade própria de qualquer homem, de qualquer mulher, de qualquer momento.
O tempo entristece, não amedronta. O tempo a haver apenas prova que o que há nunca houve e jamais haverá. Tudo se identificará e associará a um tempo inexistente e ignóbil, absorvendo os nossos pensamentos, fazendo-nos perder tempo. Se o tempo não existe, não existimos, logo a nulidade é que é presente. Somos a memória de um tempo a haver, nada mais.
Dinis Pires