O pequeno hamster
A Luísa construiu a sua própria guilhotina em miniatura. Algures na web encontrou um guia de montagem, em mais uma daquelas ocasiões em que o ser humano se despista da vida para se ocupar de ocupar a existência.
Há dias tinha-lhe sido oferecido um hamster branco de olhos avermelhados, um autêntico demónio com a capa da sensualidade, que mordia toda a gente. Luísa ainda não se aventurara a pegar no bicho. Por enquanto respeitava o seu território, cada macaco no seu galho. Especialmente após o incidente com o irmão mais novo que, ao se encher de coragem para dar algum carinho ao animal, sofrera um ataque ao dedo anelar da mão direita que lhe custara três pontos.
Há dias tinha-lhe sido oferecido um hamster branco de olhos avermelhados, um autêntico demónio com a capa da sensualidade, que mordia toda a gente. Luísa ainda não se aventurara a pegar no bicho. Por enquanto respeitava o seu território, cada macaco no seu galho. Especialmente após o incidente com o irmão mais novo que, ao se encher de coragem para dar algum carinho ao animal, sofrera um ataque ao dedo anelar da mão direita que lhe custara três pontos.
Passaram-se dias em que Luísa fora ganhando a confiança do demónio, com incursões gradativas à sua jaula para este ser subornado por pedaços de cenoura. Passados uns dez dias, o mostrengo já permitiu um leve toque de pele humana, mas sempre com a certeza duma recompensa, digamos, atenciosa. No dia seguinte, Luísa esqueceu-se da recompensa, e o bicho, desiludido e exasperado, resolveu vingar-se na ponta do nariz da nossa amiga, enquanto ela o acariciava com a face. Luísa prontamente o atirou ao chão e fugiu para a casa-de-banho para se tratar. Ia precisar de pontos. Voltou para o quarto. Fechou a porta. O pequeno roedor olhava-lhe. Nunca as suas antenas vibraram tanto. Nunca se sentiu com tamanha emoção, tamanha apreensão. Ainda tinha um pedaço de queijo em cima da cómoda. Usou-o para atrair o hamster à sua mão. O bicho, hipnotizado pela guloseima, ia comendo o queijinho nas mãos de Luísa que observava a sua mais recente criação. Luísa tinha a guilhotina e o queijo na mão. Meteu o demónio em posição e experimentou a sua pequena novidade. Zás! Um corte perfeito. Luísa abriu a porta do quarto e assobiou três vezes. Rapidamente surgiu do andar de baixo pelas escadas o seu animal doméstico com o rabo a abanar. Levou-o ao local do crime. O cão lambeu o sangue que jorrava e levou o corpo do bicho para outro lugar. Luísa foi ao congelador buscar gelado.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home