Movimentos circulares
Ele saboreava o chão do quarto com as mãos. Em movimentos circulares, os poros desprotegidos da sua pele, voltavam-se para dentro, em fuga da imundez acumulada. Deitado, de olhos fechados. A sua face piscava um choro por vir. Aguentou. Ergueu-se do solo, como um girassol em busca da luz que espreitava pelos estores. Sentou-se na cama, fitando o chão. Coçou o nariz em busca de alívio. Ao levantar-se, imaginou-se o primeiro hominídeo que se erguera totalmente. Ia agora em busca do fogo e de armas. Saiu de casa apressado e ainda de pijama, eram duas da manhã. Ela morava na vivenda ao lado e as luzes ainda estavam acordadas. Tocou à campainha, ela abriu. Entra, disse-lhe. Ele entrou. A porta separou-os do mundo. Agarrou as suas coxas e cheirou-lhe profundamente a face. As suas mãos percorreram-lhe o corpo todo, deixando-a ofegante. Ela levou-o de mão dada do corredor para a sala. Apagou as luzes e começou a dançar ao som do silêncio. Ele olhava-a, iluminada pela luz da lua. Aproximou-se. Juntou-se ao silêncio para ser dançado por ela. Sentou-se a fumar um cigarro. O fumo marcava o ritmo da sua dança. Levantou-se em busca dum beijo. Ligados por um qualquer cordão, levitaram até ao solo alcatifado. Em movimentos circulares, os poros desprotegidos dos seus corpos, voltaram-se para fora, em fuga da solidão.
Lucas Madrugada
Lucas Madrugada
1 Comments:
e mais coisas?
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