"III"

O sangue da terra tem sido usado,
por um mago antanho aos magos,
na alquimia mais ambiciosa.

Comprei sangue por ambrósia
numa feira de loja só,
sem alguém que me atendesse.

Disse-me Caeiro que o sangue da terra
é sonho disfarçado de esperança.

L.C

"II"

Sinto, nos simples prazeres da vida,
uma ânsia desconfortável,
como se não os sentisse deveras.

É no desejo que me sinto fraco
como uma paixão decadente. Parto,
em forma de cometa, para o rio
onde não há corrente alguma.

Serei no sonho todos os prazeres
de toda a humanidade.

L.M

O LIVRO DO SONHO

“I”

Tenho bebido leite preto dentro
do frasco em que vivo. Ah
se pudesse inverter tudo!

Passo pela boca do tigre embora
o tigre seja eu morto. Ah
se eu vivo fosse tigre e
na mortalidade dos sonhos
fosse sempre corpo!

Tenho expelido sonhos dentro
dum frasco de vento. Ah
se eu fosse todo este zumbido!

"Prefácio"

O turbilhão tem a vida inteira_ apenas.

Eterna espera do nada, tudo que me move

pelo abraço do mundo, faço o impossível,

trabalho horas a fio pela inspiração pelo

meu abraço pelo teu abraço leitor!

Lucas Madrugada

"Consideração sobre o tempo"

Quando poisei a pena
viva, surpreendi-me
por ter sido no final
deste poema

Lucas Madrugada

"Em frente ao espelho"

Em frente ao espelho um cigarro dança no escuro
contem-se retrai-se para enxergar o fumo morte

_ De dia_ o poeta acorda. Já não é poeta.
Hey there lad, art thou someone to keep?
A lucidez dorme no futuro sono. Ontem
quis imitar-se anteontem. Ah
se o poeta o aceitasse!

_ De noite_ o poeta adormece. É poeta.
_Als ich heute von dir ging _
lembrei-me do sonho. Hoje
quero imitar-me. Ah
se o sonho aceitasse!

Em frente ao espelho o poeta despede-se
com mazelas de nicotina na alma.

Lucas Madrugada

"...um poema no dia da poesia"

Quem guarda os sonhos para a morte
não solta o grito mãe
das intempéries,
na ingenuidade protectora do navio.
Quando cai à mão de piratas
vindos do mar em vida
procura
abrigo no sonho.

Lucas Madrugada